
Martha Branco
Principal dificuldade
Conselho
Qual a tua experiência em bicicleta na cidade?
Mudei para o Porto faz quatro anos e, poucos meses depois, a bicicleta começou a fazer parte do meu dia a dia. Aos poucos foi-se tornando o principal meio de transporte em minha casa, para ir ao mercado, para o trabalho, visitar amigos e familiares e passeios no geral. Mas tenho a sensação de que durante o último ano os automobilistas têm estado mais nervosos e sem paciência para com ciclistas e pedestres. Sinto muitas vezes hostilidade e falta de respeito pelo nosso espaço nas ruas quando estamos na bicicleta. Então, digo que andar de bicicleta é um ato de amor e, principalmente, de resistência.
Fala-nos de como o género tem condicionado, ou não, essa experiência.
Sei que vivemos numa sociedade machista e patriarcal, mas acredito que aqui na região do Porto — e faço esta ressalva porque acho importante —, ser mulher ou homem é indiferente, no meu ponto de vista e pelas experiências que vivi.
Se consideras que tem condicionado, que situações viveste, ao usar a bicicleta, em que sentiste de algum modo desigualdade, insegurança ou falta de acesso pelo facto de seres mulher?
Observo que estamos tão atrasados em relação a este tema, que em cima de uma bicicleta somos iguais [homens e mulheres] e sofremos as mesmas consequências da violência no trânsito — que se deve muitas vezes à falta de empatia para com o ciclista, às altas velocidades dos carros e à invasão do nosso espaço na via pública, como se estivéssemos a ocupar um lugar que não é nosso.
O que falta na tua perspectiva para que mais mulheres usem regularmente a bicicleta como meio de transporte?
O que falta, no geral, para homens, mulheres e crianças andarem mais de bicicleta, e até mesmo a pé, é uma consciência geral. Começar logo na escola, e também introduzir algum material sobre este tema nas escolas de condução, para quem vai tirar ou renovar a carta. Também faltam medidas dos órgãos públicos, educar os condutores com multas reais e pesadas para quem mostra claramente que não respeita os sinais de trânsito, quem ocupa os passeios e as ciclovias estacionando os seus carros, e quem não respeita os demais utilizadores da via pública. Sinto que estamos muito longe de algo bom para os ciclistas, e, com as novas obras que vejo acontecendo na cidade, parece que estamos andando para trás.