Beatrix Rencsisovszki

43 anos, V. N. Gaia, Porto

«Penso que no centro da cidade [do Porto] não conseguimos fazer infraestrutura suficiente para as bicicletas porque as ruas não são muito largas, mas podemos ensinar a ideia geral de que o mais vulnerável tem prioridade.»

Principal dificuldade

Sinto falta de espaços com cobertura onde se possa estacionar. Ou pelo menos estacionamentos à volta de instituições públicas, câmara municipal, universidades, teatros, centro de saúde…

Conselho

Em dias de chuva, tenho sempre um pequeno saco para cobrir o selim. Os automobilistas não estão habituados às bicicletas na cidade, por isso temos de ter bastante iluminação para estarmos visíveis.

Qual a tua experiência em bicicleta na cidade?

Eu adoro andar de bicicleta no Porto. É uma cidade em que não há grandes distâncias, por isso é fácil circular. Quando sorrimos, as pessoas sorriem de volta. A vista é espetacular.
As ruas com paralelos não ajudam, no caso de pessoas que têm bicicletas com rodas fininhas, e todas as ruas são como escaladas. Uso a bicicleta como meio de transporte. Quando vim para o Porto mudei de bicicleta, de road race (que era ideal em Budapeste) para uma mountain bike elétrica, para conseguir pedalar numa cidade nova para mim.

Penso que aqui a bicicleta elétrica é ideal para pessoas que querem andar facilmente na cidade. É espetacular que às vezes também podemos combinar o metro com a bicicleta. Faz muito sentido, porque o metro é o único transporte público confiável.

Pessoalmente acho que em Portugal se conduz muito depressa, e tenho saudades de ver lombas para obrigar os carros a manterem-se nos limites de velocidade, porque a sinalização é só “para inglês ver”. Os motoristas dão pouco espaço de distância quando nos ultrapassam e não existe fiscalização do estacionamento.
No entanto, se houver algum problema, as pessoas querem ajudar, e geralmente são corteses. Penso que no centro da cidade não conseguimos fazer infraestrutura suficiente para as bicicletas porque as ruas não são muito largas, mas podemos ensinar a ideia geral de que o mais vulnerável tem prioridade.

Fala-nos de como o teu género tem condicionado, ou não, essa experiência.

Nas subidas temos menos força. 🙂

Se consideras que tem condicionado, que situações viveste, ao usar a
bicicleta, em que sentiste de algum modo desigualdade, insegurança ou falta de acesso pelo facto de seres mulher?

Não tenho experiências más.

O que falta na tua perspetiva para que mais mulheres usem regularmente a
bicicleta como modo de transporte?

As pessoas frequentemente criam uma imagem sobre os “biciclistas” de que eles vestem licra, têm muitos músculos e andam suados. Não é uma imagem sexy nem apelativa. É desporto. No entanto, andar de bicicleta é realmente um meio de transporte rápido, fácil e barato. Hoje em dia, existem tecnologias, nomeadamente bicicletas elétricas, que reduzem a dificuldade de subir estas ruas mais íngremes do Porto.

+ Histórias

Marisa Alves

54 anos, Gondomar, Porto

«O que se tem de gerir é o que qualquer mulher está habituada a fazer desde que se move pelo espaço público sozinha, evitando algum tipo de trajeto ou determinadas horas do dia. Mas isso, quer vá de bicicleta ou noutros modos. Ou seja, quanto mais seguro for o espaço público, mais mulheres andarão nele de todas as formas.»

Victória Clemente

12 anos, Belém, Lisboa

«Uso regularmente transportes públicos, e tenho sempre aquelas inseguranças e medos que nunca senti na bicicleta. Sinto-me muito mais segura na bicicleta do que em muitos transportes públicos.»

Isabel Viana

69 anos, Porto

«Lembro-me de um taxista que me bateu violentamente por trás, fui projetada uns metros… Disse-me “a senhora não devia andar de bicicleta”, “sabe que quem anda à chuva molha-se”. […] Outro disse que se eu fosse um homem me “tratava da saúde”.»

Martha Branco

40 anos, Maia, Porto

«Sinto muitas vezes hostilidade e falta de respeito pelo nosso espaço nas ruas quando estamos na bicicleta. Então, digo que andar de bicicleta é um ato de amor e, principalmente, de resistência.»

Luzia Borges

49 anos, Dafundo, Lisboa

«Talvez sinta também condescendência por ser mulher, como se ser mulher fosse de uma fragilidade tal que é quase sinal de loucura andar na estrada — que “estão a pôr-se a jeito” e “depois não se queixem se forem atropeladas”.»

Maria Luísa Sousa

46 anos, Penha de França, Lisboa

«Viver numa zona movimentada dá-me o privilégio de, como mulher, me deslocar com mais liberdade do que se vivesse em zonas mais isoladas. No entanto, houve situações em que, ou pela hora, ou pela zona da cidade, já tive receio de a coisa poder não correr bem, e aí o facto de ser mulher conta.»

Catarina Domingues

41 anos, Lisboa

«Há menos mulheres [do que homens] a andar de bicicleta porque a maioria das tarefas domésticas e responsabilidade com os filhos ou outros familiares ainda são unicamente ou em grande parte responsabilidade das mulheres.»